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Regatas Baleeiras

 

Sou neto de um baleeiro. Com isso muito me honro. Foi um daqueles que daqui partiu de salto, aos catorze anos de idade e por lá andou, na baleação, cerca de vinte e cinco anos. Aqui foi um dos fundadores da Companhia União, vulgarmente conhecida pela “das Senhoras” por haver dois ou três sócios do sexo feminino. Foi um dos que, depois de se estabelecer a actividade baleeira no Cais do Pico, foi ensinar a balear e a derreter. Tal como mais tarde aconteceu ao António Joaquim e ao Pé Leve...
E porquê esta referência?

Estranhar-se-á que dedique alguns dos meus escritos à baleação. A explicação fica dada. E ela mais natural é quando a actividade baleeira continua no Whale Watching e nas regatas com canoas baleeiras.

Enquanto aquela actividade de “vigiar baleias” se tornou numa indústria rentável para os respectivos operadores, as regatas não passam de mero desporto, praticado por elementos dos dois sexos. E rara é a festa de verão, ou “semana”, que não inclua em seu programa uma regata com canoas baleeiras. Até a “Semana do Mar”.

As canoas foram espalhadas pelos clubes navais e por algumas juntas de freguesia, daquelas que têm portos de mar, para que pudessem promover a prática de desportos náuticos. Uma forma, aliás simpática, de dar utilidade às dezenas de botes baleeiros existentes nos Açores. E foi o que aconteceu nas Lajes, onde existiam sete armações, possuindo treze botes e duas lanchas baleeiras. A “Cigana” e a “Rosa Maria” ficaram no porto das Lajes, entregues ao Clube Náutico, assim como algumas canoas. Pelo menos a “Maria Armanda”, “Liberdade”, “Diana”, “Maria Celeste” e outras... e elas não têm feito má figura nas regatas em que tomam parte, quer à vela, quer a remos. Mas, curiosamente, as equipas vencedoras são, normalmente, do sexo feminino. São as meninas as ganhadoras, nas regata a remos, o que não deixa de ser curioso. Onde está a juventude masculina? Muitos jovens também lá vão mas talvez sem o entusiasmo que domina as moças lajenses. E é vê-las quase todos os dias a treinar nas “suas” canoas.

Aquando da visita régia, a 28 de Junho de 1901, à cidade da Horta, os Reis D. Carlos e D. Amélia, que viajavam no cruzador D. Carlos, foram recebidos por uma esquadrilha de canoas baleeiras, a remos, que contornaram o navio e o acompanharam ao ancoradouro.

No dia seguinte, houve regatas à vela e a remos de canoas baleeiras e embarcações de recreio. Os monarcas visitantes assistiram à regata a bordo do cruzador S. Gabriel.

D. Carlos ficou muito satisfeito com a homenagem dos baleeiros (que nas ruas da cidade haviam já levantado, em homenagem às Majestades um artístico arco triunfal que se destacou entre os demais), e ofereceu às duas canoas vencedoras uma canoa baleeira.

Mas, como em tudo acontece, as canoas um dia vão desaparecer de velhas e cansadas e não haverá calafates que as reparem ou substituam. Passarão à história como aconteceu à caça da baleia.

É agradável ver as nossas canoas de velas enfunadas, deslizar sobre as águas do Atlântico, quando mansas, em competição com outras manobradas pela nossa juventude.

E vendo-as assim elegantes e donairosas vem à lembrança o seu primeiro construtor, o mestre Francisco José Machado, o “Experiente” que, jovem ainda, construiu o “São José”, o primeiro bote baleeiro feito nos Açores e mesmo em Portugal. Hoje é um desconhecido ou, mais propriamente, um ignorado, quando merecia que a terra, através das respectivas entidades oficiais, lhe prestassem uma merecida homenagem. Mas os homens passam e ficam esquecidos.

Pois que se conservem ao menos os botes ou canoas que restam e que as regatas possam continuar por esses anos fora, alegrando os respectivos espectadores!

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